sábado, 11 de outubro de 2014

Puíta ou Semba

A Puíta ou Semba, mais conhecida pelos santomenses como “Puíta” é um tipo de dança que faz parte da nossa cultura.
Esta dança foi introduzida em S. Tomé e Príncipe pelos serviçais angolanos que na altura vieram trabalhar nas roças. Há quem diga que o Semba tem a mesma origem da “Massemba que também é uma dança angolana, pela semelhança existente entre elas.
Dizendo assim, dá a entender que a Puíta e o Semba são danças diferentes, mas segundo as entrevistas realizadas a algumas pessoas mais velhas, dançarinos da Puíta, o Semba é a continuação ou um ramo da Puíta, depois de tanto dançar a Puíta, alteraram ligeiramente a dança e esta ligeira alteração é que se chama de Semba.
Organizados em filas indianas, sem um número definido pessoas, as raparigas posicionam-se de um lado e os rapazes de outro, de modo a que fique um grupo defronte ao outro. Após o toque da música começam a dançar.
Em que consiste a dança?
Um rapaz desloca-se da sua fila e vai ao encontro a sua parceira e vice-versa e encontram-se no centro onde decorre a dança.
Dão a primeira, segunda e terceira “cumba” e regressam aos seus lugares, a seguir vem outro par e assim sucessivamente até todos dançarem e se possível repetir a ronda até que a música termine.

A Puíta ou semba é uma dança que se faz em homenagem aos defuntos. Diz-se que os espíritos dos mortos ficam inquietos e a forma de acalmá-los é dançando a Puíta noite do nojo até ao romper da manhã após a qual se celebra a missa.
Acredita-se que dançar a Puíta é uma forma de acalmar os espíritos daqueles que durante a sua vida trabalhavam nas roças, os “tongas” (oriundos de Angola e Moçambique), pelo facto de a Puíta fazer parte das suas actividades de lazer durante a sua vida. Defendem que os mortos continuam em contacto com o mundo dos vivos e que a actuação da Puíta é fundamental para o descanso dos mesmos.
É todo um conjunto de crenças e superstições que vêm desde séculos atrás e nas quais o povo acredita cegamente, pensando que o não cumprimento das mesmas terá graves consequências no dia-a-dia das pessoas, que se verifica neste caso e não só. De notar que por vezes até um simples partir de pratos é encarado como manifestação dos mortos, significando que eles estão aborrecidos.
Embora muitos não acreditam que depois que as pessoas morrem, continuem a estar em contacto com o mundo dos vivos, principalmente os mais jovens. A verdade é que os mais velhos acreditam tanto que dizem que “só se morre no corpo, a alma não morre”, podemos ver isso no dia-a-dia das pessoas. Tomemos por exemplo uma crença que é muito frequente em S.Tomé: existem pessoas que quando terminam de cozinhar, a primeira pessoa a ser servida é o defunto, ou seja, localmente chama-se cabeça de comida, que corresponde à primeira parte da comida, tira-se e põe-se num prato e deixa-se em cima da mesa, acreditando que o defunto ficará contente e mais calmo. E porque é que os defuntos são os primeiros a serem servidos? Trata-se de uma veneração, ou seja, dizem que os defuntos merecem mais respeito e por isso lhes atribuem uma especial atenção. E o facto de se esquecerem de servir a comida ao defunto, leva a que estes fiquem aborrecidos podendo-se manifestar através do latir dos cães, o simples bater de uma janela ou portão ou através de uma doença.
Devemos ver a Puíta como sendo uma relíquia que herdamos dos nossos antepassados e por isso devemos preservá-la, valorizá-la e dar-lhe o seu devido apreço, de modo que as gerações vindouras possam usufruir e se orgulhar desta bela dança.
Mas para que isso aconteça é necessário que haja intervenção de ambos os lados, ou seja, intervenção do estado e autarquias locais que passa pela educação cívica e intervenção civil que se realiza através da mudança de mentalidades.
Revitalizar a Puíta enquanto património histórico-cultural para além de ser um exercício de preservação da tradição é, também, uma aprendizagem importante para a cidadania, na medida em que esta passa pela preservação, valorização e manutenção dos valores culturais.


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